Amazônia: negócios sustentáveis estão crescendo

Por Fernanda Santos

A floresta amazônica, maior biodiversidade do mundo, perde milhares de quilômetros quadrados para o desmatamento todos os anos

O empreendedorismo sustentável é uma peça fundamental para a preservação da floresta e desenvolvimento das comunidades locais

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O aumento do desmatamento na floresta amazônica é hoje um dos principais assuntos em pauta tanto no País como no exterior. Polêmicas do cenário político à parte, há um consenso mundial sobre a necessidade de encontrar caminhos sustentáveis para a exploração da Amazônia. Afinal, estamos falando da maior floresta tropical do mundo que, entre agosto de 2018 e julho 2019, teve mais de 5 mil km² desmatados. Os dados são do boletim do desmatamento do Imazon, instituto que há 29 anos luta pela preservação e uso sustentável dos recursos.

Pode parecer curioso, mas quando falamos de preservação não é apenas a fiscalização que entra em cena, mas também a atividade empreendedora. Os donos de negócios da região têm um papel fundamental no desenvolvimento sócioeconômico das comunidades e conservação do meio-ambiente.

Para entender melhor quem são os empreendedores da Amazônia brasileira e que tipos de negócios sustentáveis estão sendo desenvolvidos por lá, a Azulis conversou com Raphael Medeiros, diretor executivo do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, e Beto Veríssimo, co-fundador do instituto Imazon. Os órgãos parceiros ficam na cidade de Belém, no Pará- estado que lidera o ranking de desmatamento.

“Nosso desafio é conciliar a agenda social com a econômica, gerando negócios de alto valor agregado. A ideia é mantermos a floresta em pé, garantindo os recursos naturais renováveis. Temos uma tripla abordagem: social, econômica e ambiental” explicou Veríssimo.

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Como usufruir sem destruir?

Para Veríssimo e Medeiros, o segredo dos negócios sustentáveis está em não exaurir os recursos da floresta. Em outras palavras, é importante que a renovação da biodiversidade seja mais expressiva que a exploração. Pensando nisso, o Imazon desenvolveu frentes de pesquisa e pensamento estratégico voltados à preservação – como monitoramento por satélite e técnicas de restauração envolvendo pequenos e médios agricultores. Os dois órgãos também trabalham para recuperar áreas desmatadas por meio do plantio de vegetação nativa.

Além do aspecto ambiental, as organizações têm como foco o desenvolvimento das comunidades locais, com geração de empregos, renda, garantia de condições dignas de trabalho, estudo, segurança, enfim: acreditam que o empreendedorismo possa beneficiar não apenas o empreendedor, mas também as outras pessoas envolvidas na cadeia produtiva.

“Imagine que um jovem encontra uma forma de produzir um açaí zero gordura. A gente quer que, na hora de negociar a rasa do açaí com o ribeirinho, o jovem pense em como beneficiá-lo também. Senão daqui uns anos o empreendedor vai estar andando na rua com seu carro zero enquanto o ribeirinho pede esmola”, afirma Raphael Medeiros, do Centro de Empreendedorismo da Amazônia.

Os novos empreendedores da Amazônia

Os principais negócios da região são do setor alimentício, especialmente porque há uma grande variedade de frutas, raízes e ervas na Amazônia que não existem em qualquer outro lugar do mundo. Um dos alimentos mais famosos é o açaí, considerado o “ouro de cor roxa” do Pará. Por ano, o estado vende cerca de 1,2 milhões de toneladas do fruto para outros estados, movimentando US$ 1,5 bilhão, segundo o SINDFRUTAS.

O ramo de moda, segundo maior poluente do planeta, também está em expansão. O destaque fica com projetos que utilizam fibras naturais e biodegradáveis na confecção de peças no lugar das fibras sintéticas vindas da monocultura do algodão. Com o olhar na sustentabilidade, os novos negócios da Amazônia estão chamando a atenção dos mercados externos – o que é valioso para a economia da região. Essa leva recente de empreendimentos sustentáveis abre portas especialmente nos países europeus, que demonstram crescente preocupação com questões socioambientais. 

“O produto é de área desmatada? Utiliza mão de obra infantil? Escrava? Quando ele é transparente, ganha valor agregado num mercado consciente, como o europeu. Isso torna claro para a gente a potência que nossa região amazônica tem”, afirma Medeiros.

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Juntos pela floresta

O Centro de Empreendedorismo da Amazônia foi criado em 2015 com o objetivo de apoiar e desenvolver, de forma sustentável, projetos de negócios que tenham a ver com a biodiversidade local.

Raphael Medeiros, diretor executivo do centro, conta que um dos maiores desafios é despertar especialmente nos jovens da região o interesse em empreender na floresta. Pensando nisso, nasceu o programa de educação empreendedora Amazônia 360. “A gente precisou descer um degrau e ajudar as pessoas a observarem a floresta como uma oportunidade de negócio. Temos a maior biodiversidade do mundo e as pessoas olham para isso com desconfiança e falta de conhecimento”, explica.

Os jovens do Amazônia 360 participam de oficinas que analisam as cadeias produtivas, debatem problemas existentes e refletem sobre possíveis soluções. Os participantes também visitam as comunidades amazônicas para entender melhor suas carências, desenvolvendo uma relação harmoniosa com a natureza e com o próximo.

“Essas oficinas têm filho de empresário sentado com ribeirinho e quilombola. Queremos desenvolver os empreendedores locais, não importa quem sejam eles”, diz Medeiros.

Para empreendedores que já estão na fase de pré-aceleração, o programa ideal é a Amazônia Up – que ajuda a validar, melhorar e tirar do papel ideias de negócio em fase inicial. Cerca de 300 projetos são selecionados por rodada. No fim, os melhores são encaminhados para uma aceleradora de startups do centro de empreendedorismo, que faz entre o dono do negócio e os investidores.

Com as iniciativas, Raphael Medeiros acredita que seja possível evitar que os jovens locais deixem o Pará para buscar oportunidades de negócios nos estados economicamente mais desenvolvidos, como os do sudeste e sul do País. Para se ter uma ideia do impacto causado pelos programas, pesquisadores do nordeste e do Rio de Janeiro estão desenvolvendo iniciativas parecidas nas regiões do semiárido e da Mata Atlântica.

“Somos uma região esquecida do Brasil. Com esses novos programas e projetos surgindo, estamos deixando de ser o ‘patinho feio’. Nosso sonho é que todos os brasileiros tenham orgulho da Amazônia e nos ajudem a preservá-la.”

 

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