Um dos melhores jeitos de ser feliz no trabalho é transformando seu hobby em ganha pão. A artesã Ana Paula Dias, de 27 anos, descobriu que tinha dom para trabalhos manuais logo na infância, enquanto observava a mãe fazer peças de artesanato e aprendia ao mesmo tempo. Hoje, ela toca o próprio ateliê e está com a agenda sempre lotada. Mas foi preciso coragem para seguir a vida de dona.

Assim como a mãe, Ana Paula é dessas pessoas que sabem fazer qualquer coisa que envolva criatividade e trabalhos manuais. Ela pinta paredes, faz enfeites de decoração, costura, confecciona lembrancinhas, monta móveis, reveste geladeiras.

“Eu faço tudo que tem a ver com arte. Eu falo para os meus clientes ‘me diz do que você precisa e eu vejo se consigo fazer’. Normalmente eu consigo sim”, explica a artesã dona do Ateliê Domínios da Arte, que é parte de um mercado que movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano no Brasil e sustenta mais de 10 milhões de brasileiros, segundo o IBGE.

Com 7 anos de negócio, a empreendedora tem uma loja online, um estabelecimento físico e pega muitas encomendas. Além disso, participa de feiras de artesanato, dá aulas e está começando um canal no Youtube. O faturamento mensal pulou de pouco mais de R$ 1000 para mais de R$ 5000. E o mais curioso é que ela descobriu por acaso que queria ter vida de dona.

A primeira oportunidade

A chance de empreender surgiu no fim do curso de Design de Interiores, em 2011, quando Ana Paula teve que criar uma marca para um trabalho da faculdade. A turma tinha pouco mais de um mês para bolar um projeto de negócio e começar a vender. Quem lucrasse mais, ganharia um prêmio, além da nota 10.

Aproveitando a afinidade que já tinha com trabalhos manuais, a empreendedora criou a AP Designer, uma lojinha que vendia acessórios diversos, como necessaires, chaveiros e bolsas. Ela mesma bolou um logo, fez alguns panfletos e começou a divulgar. No fim, lucrou R$ 1500 e venceu o desafio dado pelo professor.

“Foi aí que eu percebi que não queria trabalhar em uma loja de móveis e ficar sentada o dia todo esperando o cliente chegar. Como eu era nova, achei que seria um bom momento para arriscar no próprio negócio”, conta ela.

O começo da vida de dona

Com a ideia de empreender na cabeça, Ana Paula pegou o dinheiro que ganhou na AP Designer e, um ano depois, montou a Domínios da Arte. Diferentemente do projeto da faculdade, a marca que veio depois não vende apenas acessórios, mas também lembrancinhas, enfeites, artigos para decoração, almofadas, entre várias outras peças artesanais.

A empresária conta que não recebeu muito apoio quando decidiu abrir o negócio, mas, ainda assim, persistiu. “No começo, ninguém me dizia que ia dar certo. Por isso eu sempre digo para quem está começando: ‘você tem que tentar, esquece o que estão falando’”, afirma.

Sem muitos recursos para investir, ela decidiu começar trabalhando de casa. Com ajuda do namorado Guilherme, que é publicitário, bolou um logo para a marca, mandou fazer alguns cartões e panfletos, fez um site para oferecer seus produtos online e começou a anunciar a empresa.

Além das questões práticas, Ana Paula foi em busca de novos conhecimentos que pudessem deixar o negócio ainda mais completo. Como só sabia costurar à mão, procurou vídeos do Youtube para aprender a usar uma máquina de costura que estava dando bobeira na sua casa. A peça foi comprada para ajudar a avó, já idosa, a costurar com mais conforto, mas nunca havia sido usada. Ao menos até Ana Paula chegar.

“Aprendi a costurar para fazer peças mais complexas e personalizadas. Esse é o meu diferencial. Além disso, não cobro um valor alto. Cobro o que eu pagaria. Um preço justo”, explica Ana Paula, que busca sempre bons fornecedores para manter o preço de custo das peças baixo e conseguir um valor de venda competitivo.

Um passo adiante no negócio

Quando a crise econômica do País começou a apertar, em 2014, as vendas do Domínios da Arte aumentaram. “Eu cresci com a crise, porque as pessoas passaram a buscar alternativas mais baratas para encomendar enfeites ou lembrancinhas, por exemplo“, explica a empreendedora.

O movimento na casa da empreendedora também cresceu, pois os clientes iam até lá fazer pedidos ou buscar compras. O entra e sai de gente começou a deixar Ana Paula receosa. Ela percebeu que era hora de ter o próprio espaço de trabalho. “Eu ficava com medo. Não gostava de receber estranhos ali”, explica.

A saída foi pedir emprestada ao pai, que é dentista, uma sala térrea no prédio onde atende, no bairro do Tatuapé, em São Paulo. Deu certo. Ana Paula reformou o espaço, montou uma vitrine onde expõe seus produtos, colocou uma placa e organizou um pequeno ateliê, onde consegue trabalhar. No dia a dia, é ela quem faz tudo: atende as pessoas, confecciona os produtos, cuida do site e Instagram, paga contas e faz compras de materiais.

Os clientes de Ana Paula são, em maior parte, mulheres, principalmente mães que querem organizar festas de aniversário para seus filhos ou outros eventos pequenos, como chás de bebês, batizados e recepções na maternidade. As formas de contato são telefone, WhatsApp ou Instagram da loja (@dominiosdaarte).

Para ficar mais conhecida, principalmente nas datas comemorativas, a empreendedora patrocina posts nas redes sociais e distribui panfletos pelas padarias e lojinhas da região. Se o volume de encomendas fica alto demais, ela vira madrugadas trabalhando e pede uma forcinha para a mãe, que também tem a mão boa.

“Eu gosto de tudo bem perfeito, com detalhes. E eu sei que minha mãe faz como eu faço, por isso às vezes peço a ajuda dela”, diz a empresária.

Vencendo a timidez

Um dos desafios da vida de dona de Ana Paula foi perder a timidez. Antes de começar o negócio, ela tinha vergonha até de ligar para pedir pizza. “Com o negócio, comecei a melhorar, criei coragem para apresentar meu trabalho, deixar panfletos nos lugares. Mudou minha vida”, afirma.

A evolução foi tanta que ela está até montando um canal no Youtube, chamado Decor by Ana Dias, que em breve estará no ar. Nos vídeos, ela pretende dar dicas de artesanato e ensinar a confeccionar peças como móveis ou bonequinhos. A ideia agora é ganhar visibilidade, pegar mais aulas, fazer parcerias e crescer.

“Eu quero continuar fazendo o que amo, porque isso não é trabalho para mim, é prazer. Eu vou dormir feliz todo dia. Mesmo que eu tenha que dormir tarde, eu sempre estou feliz.”