Para driblar o desemprego, amigos com síndrome de Down abrem pizzaria

Por Maria Teresa Lazarini

A Los Perejiles foi fundada em 2016 por quatro amigos argentinos que não encontraram espaço no mercado de trabalho

De lá para cá, a pizzaria já fez mais de 500 eventos e conquistou 57 mil seguidores no Facebook

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Os jovens Franco Noseda, Leandro Pardo, Mateo Kawaguchi e Mauricio Roldan (da esquerda para direita na foto acima) ficaram amigos na escola em que estudavam na cidade de San Isidro, na Argentina. Ao longo dos anos de estudo, eles aprenderam coisas que nem todo aluno tem a chance de aprender, como noções básicas de culinária e administração financeira.

Quando chegaram na faixa dos 20 anos, os argentinos decidiram que era hora de ingressar no mercado de trabalho e colocar todo o conhecimento que adquiriram em prática. Com essa decisão em mente, saíram em busca de emprego, mas só tiveram decepções. Apesar de muita disposição para trabalhar, as respostas eram todas negativas. O motivo: eles têm síndrome de Down e, segundo as empresas onde tentaram vaga, são inaptos ao trabalho.

Por ser uma condição genética, pessoas com síndrome de Down nascem com 3 cópias do cromossomo 21, em vez de duas. Isso resulta em uma deficiência intelectual, que, segundo a organização Movimento Down, é uma dificuldade de raciocínio e compreensão que pode limitar alguns tipos de atividades. Mas não todas.

A falta de oportunidades no mercado de trabalho foi apenas mais um desafio enfrentado pelos amigos de San Isidro, que não abaixaram a cabeça. A saída foi apostar na fundação da própria empresa. Aproveitando o conhecimento que tinham sobre culinária e outros serviços relacionados, os quatro argentinos criaram, em 2016, a Los Perejiles, uma pizzaria especializada em festas e eventos. O nome é uma brincadeira com a expressão “perejiles”, que além de significar salsinha em espanhol, também quer dizer “bobo”, um duplo sentido intencional utilizado pelos fundadores. 

“O primeiro evento foi na casa de um dos jovens, em uma comemoração de aniversário. Eles trabalharam e comprovaram que podiam fazer bem o serviço”, comenta Gabriela Kawaguchi, mãe do cofundador Mateo Kawaguchi, em entrevista a Azulis.

Depois de uma publicação na página do Facebook da Los Perejiles, que já tem mais de 57 mil curtidas, a pizzaria deslanchou. Por conta da visibilidade e sucesso que o negócio conquistou, os fundadores tiveram que aumentar o pessoal. Hoje, a empresa é formada por um time de mais de 20 jovens com síndrome de Down que colocam literalmente a mão na massa. E os serviços também cresceram: de 2016 para cá, eles já realizaram mais de 500 eventos ao redor da Argentina.

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O pontapé inicial

Além de participarem das aulas regulares da escola, os quatro amigos argentinos faziam hora extra. Toda semana, o professor Leandro López tirava um tempo para as chamadas “atividades de independência”, que abordavam assuntos de administração financeira. Vendo o desenvolvimento dos alunos durante as aulas, o professor pensou que eles poderiam aproveitar o conhecimento adquirido para entrar no mercado de trabalho. E foi assim que surgiu a ideia da Los Perejiles.

Na cozinha de Leandro López, os alunos começaram a preparar pizzas para eventos familiares, empresariais e até para pessoas em situação de rua. A ideia deu certo. Com um modelo de negócios conhecido como “pizza party” (festa da pizza), a Los Perejiles hoje cobra cerca de R$20 ($300 pesos argentinos) por pessoa pelo rodízio. São os jovens com síndrome de Down que fazem o evento funcionar: além de servirem as pizzas e entradas, eles também ajudam no processo de produção dos alimentos.

“A ideia é que eles realizem o trabalho da maneira mais independente possível. Eles vão aos eventos acompanhados por um coordenador, que é quem organiza o grupo para preparar as pizzas, cortá-las e servi-las de maneira prática”, diz Gabriela, mãe de Mateo.

Apesar das intenções do professor Leandro López de colocar os próprios jovens como donos da empresa, por “questões legais e práticas”, o negócio foi aberto no nome dos pais dos fundadores, explica a entrevistada da Azulis. 

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Fonte: Divulgação

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Dificuldades no mercado de trabalho

De acordo com a Pesquisa Akatu 2018, as intenções de compra em uma empresa crescem quando o consumidor percebe que o negócio trata todos os funcionários da mesma forma e tem diversidade na equipe. Ainda assim, na Argentina, somente 3 de cada 10 donos de empresas concordam em contratar pessoas com deficiência. Para se ter uma ideia das dificuldades encontradas pelos amigos da Los Perejiles, segundo dados da Asociación Síndrome de Down de la República Argentina (Asdra), mais de 70% das pessoas com Down em condições de trabalhar (18-65) ainda não têm emprego.

Impulsionados pelas famílias e pelo professor López, os jovens Leandro, Franco, Mauricio e Mateo conseguiram driblar as estatísticas. Empreendendo, eles entraram no mercado de trabalho e mudaram a realidade local para jovens com síndrome de Down. 

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